Este post é só para não perder esta música. Já é a terceira vez que me desaparece.
Nancy Vieira e Manuel Paulo - Ilha dos outros
Vestiu a camisola de lã cor de sangue escuro. Com o frio que estava, só mesmo a lã o conseguia aquecer. Pegou no blusão, carteira, chaves e saiu de casa batendo a porta. O som dos seus passos no chão húmido ecoou pelas escadas do prédio. A cada passo a sensação de pisar areia no chão, areia que no verão nem se sente, nem se nota.
Iyeoka - Simply Falling
Já na rua, o frio descobriu forma de lhe encontrar a pele, nas mãos, no pescoço, na cara. Empurrou as mãos para os bolsos das calças de ganga, mas só se sentiu apertado, preso. Voltou a guardar as mãos nos bolsos do blusão. Tomou a direcção habitual para apanhar o metro. Pelo chão vários castanhos nas folhas de plátano. Os sapatos com sola de borracha manhosa, a chuva e as folhas levaram a pequenas escorregadelas sucessivas. Atravessou a rua para o passeio nu, sem o cobertor de folhas nem o perigo de queda.
Da estação solta-se um ruído de comboios que chegam e partem, misturado com o da escada rolante. Pessoas apressadas, sempre apressadas, sempre com receio de perder o metro, sempre com medo de esperar e se verem perante si mesmas.
Saiu no Martim Moniz, início da Mouraria. O Centro comercial enorme num dos lados da praça. Atravessou-o e viu-se frente a um bloco de mármore rosa meio esculpido, onde se percebe uma guitarra portuguesa. Entrou na rua do capelão e re-encontrou Lisboa e as suas ruelas. Sentiu-se em casa. Esta é a Lisboa que é boa de viver, a Lisboa do fado. Mas não um fado triste e soturno, um fado alegre e bem vivo. Um fado a cada esquina. Deixou-se entranhar pelo espírito e amou profundamente.
Lisboa também é isto.
Desculpa minha guitarra, tive um caso com o piano e ando de olho na guitarra portuguesa, mas é para ti que volto sempre.
Annie Lennox - Waiting in vain
Letra e Música de Bob Marley:
My heart says follow through
But I know now that I'm way down on your line
But the waiting feel is fine
So don't treat me like a puppet on a string
'Cause I know how to do my thing
Don't talk to me as if you think I'm dumb
I wanna know when you're gonna come, see
I don't wanna wait in vain for your love
I don't wanna wait in vain for your love
I don't wanna wait in vain for your love
(I don't wanna wait in vain for your love)
'Cause summer is here
I'm still waiting there
Winter is here
And I'm still waiting there
Like I said
It's been three years since
I'm knocking on your door
And I still can knock some more
Huu girl, Huu girl
Is it reasonable I wanna know now
For I to knock some more
You see in life I know there is lots of grief
But your love is my relief
Tears in my eyes burn
Tears in my eyes burn
While I'm waiting
While I'm waiting
For my turn, see
I don't wanna wait in vain for your love
I don't wanna wait in vain for your love
I don't wanna wait in vain for your love
I don't wanna wait in vain for your love
(I don't wanna wait in vain for your love)
'Cause summer is here
I'm still waiting there
Winter is here
And I'm still waiting there
I don't wanna, I don't wanna, I don't wanna,
I don't wanna, I don't wanna wait in vain
I don't wanna, I don't wanna, I don't wanna,
I don't wanna, I don't wanna wait in vain
I don't wanna, I don't wanna, I don't wanna,
I don't wanna, I don't wanna wait in vain
I don't wanna, I don't wanna, I don't wanna,
I don't wanna, I don't wanna wait in vain
Para alíviar os ânimos, aqui vai uma música fresquinha. Quem vem na ponte sobre o Tejo e vê Lisboa dessa perspectiva, não esquece. :)
Cito
A vida vai torta, Jamais se endireita, O azar persegue, Enconde-se à espreita
Sinto a luz nos olhos e desvio a cara. Tento ver através do reflexo da montra. A lista de empregos disponíveis parece uma coisa genérica, abrangente, metálica. Quase como se não tivessem pedido nenhum de nenhum empresário, mas se entrar algum, têm um dossier de respostas pronto a mostrar.
Nunca dei um passo, Que fosse o correcto, Eu nunca fiz nada, Que batesse certo
Meto a chave à porta, rodo-a e abro a porta. Está tudo igual, nos mesmos espaços, na mesma lentidão de gestos estáticos. Fecho a porta deixando os ruídos da rua mais distantes. Cada gesto produz os sons esperados, nenhuma surpresa.
Enquanto esperavas no fundo da rua, Pensava em ti e em que sorte era a tua, Quero-te tanto...(quero-te tanto), Quero-te tanto...(quero-te tanto)
Ligo o PC e tento lembrar-me da lista de tarefas que tinha feito mentalmente quando voltava para casa. Pego no envelope da conta da água e tento escrever os items da lista. A vida corre devagar.
De modo que a vida, É um circo de feras, E uns entre tantos, São as minhas feras
O estomago chama-me. Levanto-me do PC e vou até à cozinha. Abro o frigorífico e espreito para dentro... não me apetece nada. Vou até à despensa, acendo a luz, espreito e ... massa, arroz, salsichas, atum, bolachas... ora bolas, devia ter comprado fruta. Daqui a pouco já faço o jantar.
Ornatos Violeta - Devagar
Hoje é só música.
The Doors - People Are Strange
Hoje lembrei-me de uma das melhores canções de sempre da música portuguesa.
De Luís Pedro Fonseca, que a sentiu, escreveu e lhe deu corpo, para a Lena d'Água, que lhe deu voz e inspiração. O José Cid já a interpretou e até uma miúda que mal sabe falar português (é uma versão linda).
Sempre que o Amor me quiser
Basta fazer-me um sinal
Soprado na brisa do mar
Ou num raio de sol
Sempre que o Amor me quiser
Sei que não vou dizer não
Resta-me ir para onde ele for
E esquecer-me de mim
E esquecer-me de mim
Como uma chama que se esquece
Numa fogueira que arde de paixão
Sempre que o Amor me quiser
Sei que a razão vai perder
Que me hei-de entregar outra vez
Como a primeira vez
Sempre que o Amor me quiser
Vou-me banhar nessa luz
Sentir a corrente passar
E esquecer-me de mim
E esquecer-me de mim
Como uma chama que se esquece
Numa fogueira que arde de paixão
Sempre que o Amor me quiser
Sons eternos.
Clã e Sérgio Godinho - Espetáculo
PS: Ideia curiosa essa da gestão bicéfala de um partido. Atendendo aos nomes sugeridos, soa mais a uma espécie de "noite dos facas longas"
Levanto-me da cadeira e vou à janela. Lá fora chove e a iluminação de rua empresta um tom surreal à imagem, enriquecida pelo som monótono de milhares de pingos a caírem no chão, nos carros, nas árvores, na roupa. Sinto frio, mas fico mais um pouco. Ninguém na rua.
Se fumasse acenderia agora o cigarro e deixaria de sentir a dor, deixaria que o fumo ocupasse o vazio. Podía encher a cabeça de música de batida previsível, sem riqueza instrumental nem rasgos de génio ou não. Talvez numa qualquer danceteria, com um qualquer grupo de amigos mais ou menos perfeitos desconhecidos, mas isso nunca me preencheu. Podia bater com a cabeça na parede, amolgar a tinta, amolgar-me por dentro. Retirar a forma, atribuíndo-lhe novos tons, novas claves de sol ou de dó, dó de mim próprio. Que patético... auto-comiseração... será que agora deu-me para isso? Como cheguei aqui?
Volto para a cozinha, pego no grão demolhado e deito na panela de pressão, junto água e ponho ao lume. Olho o relógio e calculo a hora a que estará pronto. Tarefas rotineiras que me trazem de volta. A vida chama, puxa por mim, por todos. O mundo não espera que eu resolva nenhum problema. Porque haveria de esperar?
Assumo as minhas responsabilidades, todos temos que o fazer.
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Ouvi hoje e adorei a voz, a sonoridade!
Percorri as memórias sem encontrar de onde me vem esta aderência às "coisas de África". Nem família, nem nada na infância. O meu pai fez a tropa no hospital militar, não é daí. Tive um tio na guerra de África mas, nunca falou muito no assunto, suponho que não havia muito que falar.
Porque se me aguçam os sentidos sempre que alguém fala nessas paragens? Talvez seja o apelo do mar, dos descobrimentos. Talvez exista um Bartolomeu Dias em cada um de nós...
Bebo as histórias vividas, contadas na 1ª pessoa. Imagino os sítios, as gentes, mas por mais que imagine, seguramente que a realidade ultrapassa tudo isso.
Lá irei... lá irei. E lá entenderei o chamamento.
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