A democracia está em risco. A democracia está sempre em risco, é preciso, é importante lembrar e re-lembrar constantemente os princípios, os valores.
Quando surgiu a questão do ministro Relvas achei que "a coisa" não ia passar impune. Talvez pela atitude firme assumida pela direção do jornal, talvez porque a fragilidade de Relvas na questão das secretas era evidente... dias depois ocorre a reunião na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) e no dia 3 de Junho, a democracia foi mais uma vez violentada. Nem precisei de comprar ou ler o jornal! Pedro Passos Coelho aparecia na capa numa fotografia de corpo inteiro e todos devíamos conhecer melhor o senhor. Não podia haver maior exercício de "lambe-botismo" por parte do Público, nem poderia o jornal prestar pior serviço à democracia. Dias depois a jornalista demitiu-se, demonstrando que tem mais coluna vertebral que o jornal inteiro, Belmiro incluído. O gesto vai-lhe custar a casa, ou o carro, ou ambos... mas demonstrou que tem carácter.
Desconheço o que levou o jornal a fazer um recuo tão grande, mas naquele segundo foram comprados. Naquele segundo perderam a isenção e a sua função de jornalismo. Passaram a ser mais um pasquim onde se publica publicidade, como o jornal de ocasião. Quem der mais publica o que quiser, quem fizer maior pressão vence. Perderam a dignidade, porque a coragem já nem se lembram o que é. A liberdade de imprensa morreu para eles naquele mesmo segundo.
Vou deixar de comprar o Público assim como já tinha deixado de comprar o Expresso há uns anos. O meu gesto não vai ter impacto para nenhum, mas não podia continuar a comprar um jornal assim. Não me interessa ler propaganda encapotada e a subserviência enoja-me. Seja económica, seja de outro tipo. Vou tentar continuar a ler os artigos de opinião, mas para isso basta-me ler a contra-capa. Fico sempre com pena do que perco, mas também sinto que nunca perco grande coisa.
GNR - Asas
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. O risco