Quinta-feira, 4 de Abril de 2013

Parece mentira

O dia rasgou a noite, como o sol rompeu a chuva. De tempos a tempos procuro o arco-íris sem o descobrir.

 

Mariza - Chuva

 

A vida continua a surpreender-nos aqui e ali, mas as emoções fortes são o que nos faz sentir vivos.

Por vezes somos fortes, outras frágeis, outras somos só espectadores.

Não consigo ser inteiro, nem alto, nem distinguir o principal. Busco o principal mas o secundário distrai-me. Espero dos outros as soluções que não construo. Destruo o que não me destroi, na ânsia do que me desfoca.

 

 

E esta chuva que me inunda a alma em jorros de insanidade. Sinto-me a enlouquecer. Deixei de acreditar em mim, no que faço. Deixei de acreditar na consequência do que faço. Deixei... escapar-te entre os dedos... porque não tinha força para suster-te nas mãos. Como se a areia pesasse toneladas e os dedos cedessem.

Não consigo pensar nem ser razoável, como sempre fui. Tudo me magoa, me atinge... apetece-me chorar toda esta chuva, inundar campos de lágrimas. Para que floresçam malmequeres e papoilas fortes e viçosas de emoções choradas, mortas.

Tudo se mistura numa amalgama indistinta de amores, família, trabalho. Tudo.

 

Lembro-me do teu queixo a tremer, meu filho, enquanto resistias a deixar correr nem que fosse uma lágrima. Bastava  um sopro nessa altura e elas correriam numa torrente libertadora. O pai também não consegue chorar... nem sei bem porquê. Mesmo assim resististe quase cinco minutos. Não pensei que tivesses endurecido tanto.

Também me lembro da tua alegria, do teu sorriso.

Um dia vamos chorar e rir de tudo isto. Um dia vamos rir.


publicado por BigJoao às 00:11
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Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2012

O sucesso

As relações, os afectos, os filhos, a família, os amigos, os colegas, os cursos, as certificações, o trabalho, os bens ... qual é a medida do sucesso? Qual é a medida do falhanço?

 

É difícil sentir-me bem em mim. Por vezes preciso do silêncio, preciso de estar comigo. Saí de casa com a chuva a cair. Protejo o livro dentro do casaco, não gosto de ver livros com páginas molhadas de chuva. Não vou ler, quero simplesmente a sua companhia. Aquele cantinho acolhedor resguardado dentro do casaco.

 

 

Respiro. Inspiro aquele ar frio... expiro-o já processado. Nada de especial, sempre o fiz. Sempre não! Houve aquele dia em que te estava a chatear de propósito irmã. Era grande mas imaturo, como todos os rapazes de 15 anos a chatear as irmãs são. Já não me conseguias bater sem que o deixasse. Deste-me um murro nas costas e de repente parei de respirar. Incrédulo quis inspirar e não consegui, uma, duas, três tentativas e nada... já deitado no chão lá comecei a conseguir. Não foram mais de 20 segundos mas foi assustador.

Hoje olho para trás e sei que fiz o que tinha que fazer. Melhor ou pior, fiz. Não me devia sentir derrotado, sem vontade. Nem eu nem os outros 16,9% de desempregados.

 

Hands on Approach - Days of Our Own


publicado por BigJoao às 00:18
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Quinta-feira, 27 de Setembro de 2012

Manifestações

Manifestei-me? Claro que sim!! Não aceito políticas erráticas implementadas só "porque sim".

Vai surgir uma solução? Nem por isso. Acredito que vão surgir pequenas soluções, se houver tempo... se o sistema não tombar de podre.

Vamos viver num estado de direito? Não. Excepto se a justiça se levar a si própria a sério e começar a julgar com base no espírito  da lei.

 

 

É interessante espreitar o termo "Justiça" na enciclopédia. Dá-nos a real dimensão da distância que temos a percorrer. É quase assustador.

A equidade por exemplo (simbolizada pela balança), onde está a equidade!? A imparcialidade (simbolizada pelos olhos vendados) não passa de uma miragem. A coragem (simbolizada pela espada) não passa de uma anedota nos dias de hoje.

 

Não me refiro aos processos pequenos em que um sem abrigo rouba um polvo e um champô, porque nesses a coragem necessária não é superior à necessária para atravessar a rua, a imparcialidade até acredito que exista, já a equidade... enfim.

 

Ontem vi um casal de idosos, até com bom ar, furtar pão no supermercado! Pão!!!!!!!!

O que fazer? Claro que não os denunciei, pagar-lhes o pão só os iria envergonhar, pelo que sobrava deixar as coisas entregues ao destino.

 

Outro aspecto prende-se com alguns dogmas existentes no sistema de justiça. Por exemplo, os filhos devem ficar sempre a cargo da mãe. Como diria um qualquer jurista, "in dubio para a mãe".

 

Presuntos Implicados - Alma de Blues


publicado por BigJoao às 00:52
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Quinta-feira, 20 de Setembro de 2012

Linhas

A caneta desenha letras no papel, criando um estranho quadro, uma estranha imagem de linhas separadas a espaços... por espaços. O papel, outrora de uma candura tipificada, normalizada e monótona vai-se deixando manchar sem retorno. Também a vida não tem volta.

 

 

As palavras foram ditas sem retorno. Palavras de fuga, palavras de enganar, palavras de indecisão. Qualquer palavra era boa para evitar a perda. Qualquer ardil era bom para atingir aquele fim.

 

As pessoas revelam-se em três tempos, basta enfrentarem uma crise, uma situação extrema e lá estão elas a espreitar, os seus princípios, a sua estrutura, os seus valores.

 

Fingiu um desequilíbrio instantâneo e avançou vacilante pelo corredor. O tecto baixo misturado com as lâmpadas flurescentes projectam sombras em todas as direcções. Ruídos estranhos e ligeiros, numa quietude de vigília. Uma calma tensa.

As paredes brancas cheias de placards informativos, "Saída", "Recepção". Pessoas paradas pelos cantos.

 

A decisão surgiu, sempre demorada. Sempre a mesma espera... as regras... os procedimentos... as vontades... a dor.

O homem sempre quis brincar aos deuses, deformar sonhos, encontrar a insustentável leveza do ser. Soa sempre a piada de mau gosto.

 

Bob Dylan - Jokerman


publicado por BigJoao às 02:05
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Sábado, 25 de Agosto de 2012

A riqueza

Continuo a perguntar-me. É este o modelo de país em que queremos viver? Há algum político satisfeito com o estado a que trouxe país? Haverá algum ego inchado e orgulhoso com o nosso desenvolvimento?
RTP concessionada, TAP vendida com hub simbólico em Lisboa, EDP e REN chinesas,
Galp privada (e agora a ganhar dinheiro como nunca), 10 estádios novinhos, aeroporto abandonado em Beja, 15% de desemprego (oficial), interior sem ninguém, a horrorosa grande Lisboa, as lamentáveis Portimão e Praia da Rocha...

 


E sempre esta obcessão dos empresários com os despedimentos. As empresas são as pessoas que lá trabalham e as ideias que têm... o resto são instalações, prédios, armazéns, viaturas... nada valem, não geram riqueza. Por isso não entendo as racionalizações e reformas antecipadas obcessivas. Por isso detesto a frase repetida e quase metálica, "há mais alguma coisa em que possa ser útil?", por reflectir ignorância e insinceridade. Reflecte a simples obediência ao "road book" dos call centers, obediência cega em vez de uma vontade real em ajudar.

 

Em Portugal nunca se fazem avaliações, balanços efectivos. Nunca se tomam medidas em consonância com as conclusões a que se chega. O despudôr dos políticos é o reflexo do "deixa andar" popular e a justiça acaba por se travestir de anedota.

 

É melhor ir dormir, caso contrário amanhã faço uma revolução.

 

Xutos & Pontapés - Para sempre


publicado por BigJoao às 01:51
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Quinta-feira, 16 de Agosto de 2012

Tenham vergonha

Aqui fica um trabalho fabuloso e também o original.

 

O original:

 

 

O "Bandex" fez isto com este discurso. É fabuloso e criativo:


publicado por BigJoao às 21:20
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Segunda-feira, 13 de Agosto de 2012

A mochila e o submarino

Pareço um autêntico tomate maduro. Dois dias de praia, um soninho retemperador e aqui estou eu. A brisa doi-me ao passar pela pele, as pernas em chaga, os olhos a arder. Estou tãooo sensível. :D

 

Enquanto tento recuperar o meu ar sóbrio o país procura os documentos dos submarinos. Lembro-me que na altura em que o Paulo Portas saiu do ministério da defesa os jornais comentaram o número impressionante de fotocópias que o seu gabinete contabilizou nos últimos dias de mandato. Será possível que se esteja à procura dos originais e afinal ele só deixou as cópias?

O actual ministro dos negócios estrangeiros deveria ser o principal interessado em que os documentos fossem encontrados, pois de outra forma ficarão sempre as suspeitas e as perguntas sobre os motivos pelos quais os documentos desapareceram e a quem interessa que continuem desaparecidos. Mas parece que o ministro não fica sequer incomodado com tal suspeita, enclausurou-se nos Açores onde se desligou do mundo.

Hoje fui ao supermercado com a minha mochila às costas, perguntei ao segurança se podia entrar e parece que sim, que podia. À saída a mochila fez apitar o detector de furtos e eu, sem ninguém me pedir, esvaziei a mochila pois a suspeita estava lançada e foi para mim inaceitável que a mera sugestão de acusação se mantivesse. Parece que a loja onde comprei a mochila devia ter tirado o alarme e não o fez.

Toda esta história para dizer que estranho a falta de reacção do ministro, para mim e para qualquer cidadão honesto, este tipo de situações têm de ser esclarecidas. Para um ministro envolvido directamente no processo, sabendo que o país da empresa que vendeu os submarinos já condenou a gestão por ter pago subornos, o assunto não lhe merece uma única palavra!?!?

 

Algo tem que estar muito errado... muito errado mesmo! Quando alguém não se dá ao respeito, não merece ser respeitado, muito menos uma pessoa que anda permanentemente a falar de moral e bons costumes e se assume defensor dessa moral.

 

 

 


publicado por BigJoao às 16:28
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Sexta-feira, 8 de Junho de 2012

O risco

A democracia está em risco. A democracia está sempre em risco, é preciso, é importante lembrar e re-lembrar constantemente os princípios, os valores.

Quando surgiu a questão do ministro Relvas achei que "a coisa" não ia passar impune. Talvez pela atitude firme assumida pela direção do jornal, talvez porque a fragilidade de Relvas na questão das secretas era evidente... dias depois ocorre a reunião na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) e no dia 3 de Junho, a democracia foi mais uma vez violentada. Nem precisei de comprar ou ler o jornal! Pedro Passos Coelho aparecia na capa numa fotografia de corpo inteiro e todos devíamos conhecer melhor o senhor. Não podia haver maior exercício de "lambe-botismo" por parte do Público, nem poderia o jornal prestar pior serviço à democracia. Dias depois a jornalista demitiu-se, demonstrando que tem mais coluna vertebral que o jornal inteiro, Belmiro incluído. O gesto vai-lhe custar a casa, ou o carro, ou ambos... mas demonstrou que tem carácter.

 

Desconheço o que levou o jornal a fazer um recuo tão grande, mas naquele segundo foram comprados. Naquele segundo perderam a isenção e a sua função de jornalismo. Passaram a ser mais um pasquim onde se publica publicidade, como o jornal de ocasião. Quem der mais publica o que quiser, quem fizer maior pressão vence. Perderam a dignidade, porque a coragem já nem se lembram o que é. A liberdade de imprensa morreu para eles naquele mesmo segundo.

 

 

 

 

 

Vou deixar de comprar o Público assim como já tinha deixado de comprar o Expresso há uns anos. O meu gesto não vai ter impacto para nenhum, mas não podia continuar a comprar um jornal assim. Não me interessa ler propaganda encapotada e a subserviência enoja-me. Seja económica, seja de outro tipo. Vou tentar continuar a ler os artigos de opinião, mas para isso basta-me ler a contra-capa. Fico sempre com pena do que perco, mas também sinto que nunca perco grande coisa.

 

 

 

GNR - Asas


publicado por BigJoao às 23:44
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Terça-feira, 17 de Janeiro de 2012

... aquilo tinha que acabar!

Há um mês que não os via, um mês que não falava com os filhos.

Ligava todos os dias como se fosse à missa, mas a mãe não passava as chamadas, tirava o telemóvel aos filhos e não os deixava falar.

 

 

 

 

Nesse dia tinha de os ver. Tinha que o fazer. Nada justifica um mês sem os ver, sem lhes falar.

Enviou um sms, avisou que ia sem admitir uma recusa. Atrasou-se... a fulana não se despachava, queria ver isto e aquilo... sonhava acordada sem rumo nem capacidade de decidir se comprava ou não. A angústia tomou conta dele, o volante parecia de espuma... se calhar estava a apertá-lo demais. Entardeceu na estrada. Sabia que não ia chegar a tempo mas havia a possibilidade de ... havia a possibilidade...

 

A rua vazia. Um único prédio novo numa rua... na promessa de uma rua. Qual a probabilidade de acertar no segundo exacto em que o portão da garagem se abria? A frente do carro na abertura da garagem, impedindo o fecho do portão. Incrédulo assistiu aos filhos a correr, a sair do carro e fugir em direcção ao elevador. A fugir de si, do pai.

A partir daí deixou de sentir. Dava passos mas não sentiu os pés no chão. Ignorou a mãe quando passou pelo carro. Deixou de ouvir com clareza. Talvez ela buzinásse. A porta do apartamento à sua frente. Tocou a campaínha com insistência, qual era a pergunta que queria? Qual era a resposta? O que justificava a fuga!?

A porta impassível, sisuda sem compaixão, sem pudor. Chamou, perguntou. A resposta esbarrava sempre na vontade da mãe. O que a mãe queria, o que não queria. Ele queria um beijo, um abraço dos filhos... só isso.

A porta fechada, imóvel, rígida. As mãos no interior sem coragem para a abrir. Sem força para desobedecer.

O alarme a tocar. A mãe lá fora, nem tentou subir. Falava ao telemóvel sem palavras, criando cenários improváveis. Bolsando mentiras. Vómitos de mentiras em GSM. Alta tecnologia a propagar cenários inventados, ao serviço da manipulação.

Finalmente as perguntas tiveram resposta. "Não queriam".

Duas palavras simples, daquelas que se dizem todos os dias. Seja ao Sr. Joaquim da mercearia, ou aos vendedores da Cais em cada sinal de trânsito.

Viu as palavras atravessarem a porta em câmara lenta, cravarem-se em si... no seu corpo. Uma e outra cravaram-se de cada lado da imagem de os ver a fugir de si. Não saiu sangue... nem uma gota. A dor, o absurdo de dor de duas palavras de todos os dias.

Virou costas e desceu... se não queriam era diferente. Completamente diferente.

Passou por alguém. Talvez lhe tenha dito alguma coisa, não ouviu a voz, ou talvez fosse outra pessoa.

Pegou em toda a dor e tentou arrumá-la no carro, mas era um caso perdido. Arrancou com cuidado. Deixou ali algo de si e seguiu.

 

Sem saber como viver, sem dar nome áquela dor, aguentou. O optimismo perdeu-se, a alegria ficou naquele patamar. Nada voltará a ser como dantes.


publicado por BigJoao às 01:27
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Segunda-feira, 24 de Outubro de 2011

O futuro

Conseguiu o emprego há três ou quatro meses. Está confuso mas também orgulhoso. Passou-se tudo muito depressa.

Quando concorreu para líder do partido pensou que chegara a sua vez, a sua vez de fazer valer as suas ideias. "O Ângelo disse que me dava todo o seu apoio".

Sempre gostou de brilhar e a sua forma de brilhar sempre foi portar-se bem, ser reconhecido como bom rapaz. Sempre acreditou que quem se porta mal tem que ser castigado.

 

Subitamente o Bloco retirou o apoio ao PEC4 e teve que decidir se deixava aquele tretas corrupto continuar a governar ou não. Falou com diversas pessoas e a maioria concordou, o "regabofe tinha que acabar".

 

Teve que se aplicar para ganhar as eleições, mas era disso que gostava na política, afirmar-se. A conjuntura era-lhe favorável. As medidas a tomar estavam no memo da troika, bastou argumentar que era esse o único remédio... formou governo e pôs em prática o que sempre fez na vida, portar-se bem.

De repente a economia começou a parar, os impostos deixararam de entrar, o desemprego disparou e os comunas desataram a fazer manifestações. Felizmente lá em Bruxelas só lhe dão palmadinhas nas costas, "tens sido duro, corajoso" dizem.

 

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O problema é que a vida não é assim maniqueista, não há bons e maus. O problema é que ser corajoso com a vida dos outros é fácil, ser corajoso com a miséria dos outros... não é coragem.

Os indicadores económicos não são tudo na vida e o liberalismo selvagem ao estilo americano está falido. A receita não é castigar salários e ordenados, a receita devia ser regular e manter controlada a actividade de gerir dinheiro. A receita é ameaçar as empresas das parcerias PP de nacionalização caso não aceitem renegociar os contratos. A receita é responsabilizar quem nos trouxe até aqui.

 

 

"A consequência de não te envolveres na política, é acabares a ser governado por pessoas piores que tu". Platão

 

 Lenny Kravitz

 


publicado por BigJoao às 01:34
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