A maldade apanha-me sempre de surpresa. Acho que nem nunca entendo bem de onde vem, qual é a sua origem.
O que é que leva uma pessoa a ter necessidade, ou a sentir vontade de fazer mal a alguém? Só pode ter origem em sentimentos mesquinhos, pequeninos.
Por outro lado, são as pessoas que nos são mais próximas, aquelas a quem damos a capacidade de nos fazerem um mal maior. Como é possível que os que nos são próximos e nos conhecem, sintam vontade de nos prejudicar? Já me falaram em inveja, que é coisa que só a custo consigo identificar noutra pessoa. Já me falaram em vingança, que é um sentimento forte e sem nenhum objectivo construtivo.
Quando o nosso lado irracional toma conta de nós, a única solução é racionalizar. Isto aprende-se e controla-se.
A meu ver, a maldade pura e dura só pode ter origem numa necessidade de sentir poder. Quando os miúdos do Porto decidiram tratar mal o travesti, só o fizeram porque sentiram que podiam, porque sentiram que isso os fazia sentirem-se poderosos. Podiam ter parado em qualquer altura, mas não, a vida de alguém estava nas suas mãos. Existirá maior sensação de poder que esta? Decidir quem vive ou morre?
Neste caso particular, onde ficou a compaixão? Este é também um sentimento muito humano. Não acho que seja necessário ensinar a alguém a ter compaixão por um seu semelhante que se encontra numa situação de fragilidade. Será que os comportamentos de grupo explicam tudo?
Quando um casal se agride com a violência da palavra, onde estão as pessoas que se amaram e respeitaram outrora? Como conseguiram sobrepor ao amor e à paixão, a mesquinhez do insulto, da ameaça, armados até aos dentes de uma imaginação malvada?
Não conheço ninguém que ache que está errado. Um ladrão quando rouba, desculpa-se a si próprio achando que a vítima não precisa ou ainda é um ladrão maior que ele. O que será que legitima nas cabeças das pessoas a maldade? Será que as suas consciências os deixam dormir? Provavelmente surgem pensamentos do tipo "estava mesmo a pedir".
O ser humano continua a ser uma surpresa permanente.
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