Estava uma manhã fria e húmida. O nevoeiro não deixava ver mais de 30 metros em redor.
Saiu da pastelaria aborrecida. O empregado nunca reparava nela, parecia que nunca a ouvia. Apesar dos seus pedidos repetidos por uma torrada e uma meia de leite, era surdo à sua voz. Perdia sempre imenso tempo na pastelaria, mas raramente perdia o autocarro das 8:10h.
Às 8:27h entrava no barco para o Terreiro do Paço, pouco antes das 9:00h estava a entrar na loja.
Sempre a mesma rotina, sempre a mesma vida. Poucas surpresas. A família esperava dela que casasse e tivesse filhos, mas nenhum rapaz parecia ser o tal. Nenhum príncipe encantado, só desilusões desdentadas e desbocadas.
Fora educada para se portar bem e por essa via chamar a atenção de um bom rapaz, como lhe dizia a mãe. As pessoas já não pareciam valorizar essa postura e ela esperava, esperava sempre... dos olhares cruzados à troca de palavras, destas à desilusão e até mágoa, nunca ia grande distância.
Ia continuar à espera, sempre à espera. Uma vida assim, deitada fora por convicções que nem sabia se eram realmente dela.
Crowded House - Don't Dream It's Over
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