A tarde preguiça e espreguiça-se enquanto se arrasta indulente num desfolhar de horas que jazem inertes, já gastas pelo chão. Finalmente encosta-se à noite suave e calorosamente, misturando-se até se tornarem numa só.
Tenho saudades de quando fumava. Havia sempre companhia dentro de cada cigarro. Havia sempre alguém com quem partilhar aquela fraqueza que entra pela boca e queima o seu caminho, até finalmente espalhar o seu calor nos pulmões. Uma leve tontura após cada passa, os olhos a arder por cada vez que o fumo lá chega. A roupa e o interior do carro sempre cheios de cinza, a cheirar a tabaco ou, o que é pior, a cheirar a tabaco frio. Lembro tudo isto sem pena de ter deixado nem recriminação de quem ainda fuma.
Sinto que as coisas comigo acontecem sempre fora de tempo. Devo ser eu, deve ter a ver comigo, com a minha forma de estar.
Já me acusaram de ser racional, mas o que sinto é exactamente o contrário. Sinto que ando sempre a sofrer as consequências de ser impulsivo, mas a verdade é que as sofro sem arrependimento.
Sinto tanta falta de algumas pessoas cá dentro... de quem não esqueci, de quem não quero esquecer, de quem quero lembrar. O tempo faz o seu trajeto implacável e esboroa rochas outrora sólidas, esbate cores outrora garridas. Só não descolora o que sentimos, isso fica cá dentro no quentinho, no aconchego do que nos é querido.
Sou como as crianças, necessito de confirmações...
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