Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2014

O croissant

 

- Fui eu que fiz!

Afirmou do outro lado do balcão com orgulho de artesã à espera de um reconhecimento, de um cumprimento.

Nem o consegui dizer, fui imediatamente interrompido por alguém que passou por trás de mim e se veio colocar à minha direita.

- Deixou cair um papel no chão.

Olhei para ela. Uma morena da minha altura, rosto de traços finos com óculos de armações em massa preta. Sorri e olhei para a esquerda. Lá estava a factura do telefone perdida atrás da cadeira onde estive sentado.

- Infelizmente é uma conta para pagar. Bem tentei esquecê-la...

Disse enquanto me baixei para a apanhar.

- Se a deixar aí, juro que não volto a chamar a atenção.

Respondeu com um sorriso.

- Esta ainda vou pagar, talvez para a próxima... boa tarde e obrigado.

Saí para a rua empurrado pelo olhar do mais que provável marido. O frio e os chuviscos arrefeceram-me a cara e mãos, até me souberam bem.

Um destes dias volto cá, os croissants são fabulosos e acabei por não o dizer.

 

 

Mayra Andrade - We used to call it love

 

 

 


publicado por BigJoao às 01:47
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Terça-feira, 8 de Novembro de 2011

Indignidade

Ainda não faz um ano que andava por aí um fulano a interpretar o personagem de primeiro ministro. Ainda nem há um ano "estávamos todos bem", com o desemprego a aumentar, mas embuidos de um optimismo inspirado por esse ator. Afinal de contas, "não era possível que nos estivesse a enganar tão enormemente"!

Pois é, mas estava! Ia pedindo cada vez mais dinheiro emprestado para pagar as inúmeras obras que tinha de contratar aos "amigos". Até que mais ninguém lhe quis emprestar ao juro a que estava habituado... sem dinheiro, é mais difícil fazer política... decidiu ir estudar filosofia para a Sorbonne. Parece que à terceira conseguiu entrar no curso, recorrendo à influência (vulgo cunha) do embaixador...

 

Para trás deixa-nos a nós, portugueses de gema e seus conterrâneos, a braços com uma das piores e mais graves crises desde que há democracia em Portugal. A troco de um novo museu dos coches de proporções bíblicas, de uma barragem no Tua que irá produzir para uma população inexistente, de parcerias nos hospitais públicos, deixa-nos na maior miséria. Enquanto Vara e Coelho recebem cerca de 700.000€ por ano cada, os portugueses vêm-se a braços com níveis de desemprego record, com desigualdades sociais de que não tenho memória.

 

Quando li esta notícia no jornal fiquei chocado. “Preciso de pôr comida na mesa”. Quando o que está em questão é a fome, é a vida dos que nos são queridos, vale tudo. Mas até no desespero existe dignidade, o ladrão não fez mal à empregada, pediu-lhe o dinheiro e saiu.

 

A alienação da realidade, a mais absoluta inconsciência deste "senhor engenheiro", trouxe-nos a isto. A maior indignidade, o abuso de poder. Prenda-se o senhor engenheiro por malfeitorias à nossa pátria. Nacionalizem-se as suas contas na Suíça e moralizem-se os cargos de gestor das empresas públicas!

 

Se alguém me estiver a ouvir, esqueçam a ideia de reduzir o horário dos transportes, ok!!? Esqueçam!

 


publicado por BigJoao às 01:55
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Segunda-feira, 16 de Março de 2009

A Comida

Espanta-me a relação das pessoas com a comida.
De onde vem a rejeição radical da comida em determinadas situações? Qual a origem da vontade descontrolada de comer nalgumas pessoas?

Usamos a refeição para momentos especiais, para reuniões de trabalho, para situações românticas, de família, etc... a partilha dessas ocasiões é sempre um momento de proximidade, maior ou menor. Expomo-nos sempre quando comemos, talvez por isso tenhamos essa necessidade de escolher com relativo cuidado as pessoas com que degustamos.

Como sempre, falo de uma situação concreta que me desperta a dúvida. Falo de um almoço em Birkhadem (Lê-se Bir RRRádem) com dois portugueses e 3 argelinos. Chegámos ao restaurante, que tem o ambiente de um "cacau da Ribeira" mas com uns 100 m quadrados, cadeiras de tasca, ou daquelas antigas que havia na escola e pedimos espetadas. Fiquei logo admirado quando o pedido foram 23 espetadas e duas meias doses de frango.
Atenção, o tipo que estava ao meu lado comeu cerca de 17 espetadas regadas com mostarda. Eu e o outro comemos 3+3!!!!!!!! O tipo tem um físico de 1,80m e não é gordo, é normal!!!!! O "bicho" despachou as primeiras 10 e eu perguntei-lhe se estava a fraquejar, ao que ele me respondeu que eram exactamente aquelas últimas 7 que lhe sabiam melhor!!!!!! Que "é preciso não ter medo da carne"!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Fabulosa esta frase! Vai ficar nos anais das minhas histórias argelinas.

O tipo é um verdadeiro cromo. Diz que fala muito alto porque os pais moravam numa casa ao lado da estrada nacional e quando passava um carro deixavam de se ouvir!!!! :)

No oposto estão aquelas pessoas que abdicam de comer. Cheguei a ver uma mãe insistir com uma criança de 7 anos para comer um prato de adulto, enquanto ela comia 2 batatas pequenas e metade de um lombo de peixe.


publicado por BigJoao às 01:49
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